Nosso quarto dia de atendimento em Benin nos deparamos com mais uma historia e uma lição de vida. Mathias chegou para ser atendido e tirou uma fotografia do seu bolso, mostrando-a para a missionária que o atendia. Na foto, ele, um pouco mais jovem, estava numa maca e tinha seu pé e coxa com queimaduras. Após mostrar a fotografia, revelou a origem das cicatrizes desse acidente: seu pé esquerdo ficou permanentemente deformado e com uma úlcera plantar ainda aberta. Mathias explicou que por causa do acidente havia parado de trabalhar, era professor, e não conseguia mais ficar em pé para dar aulas.
Com 1,78m, 48kg e uma infeção local na úlcera do pé, o que nos chamava atenção era sua feição entristecida e cabisbaixa.
Conversamos com nossos ortopedistas sobre uma possibilidade para Mathias e a única opção era uma amputação para aliviar suas dores.
Mathias não quis a amputação, talvez por uma estigmatização de sua sociedade, quem sabe até por um aumento das dificuldades. Nos falou que se pudéssemos lavar a ferida e fazer um curativo já o ajudaríamos. Nesse período o paciente perguntou para a missionária que o atendia se ele devia tomar a medicação passada junto com alimento já que não comia há algum tempo. Que desde que perdera o emprego ele, a mulher e seus 3 filhos não se alimentavam todos os dias e que não tinham dinheiro para necessidades básicas de vida.
Nesse momento a tristeza daquele homem cabisbaixo era explicada, sua dor vinha de varias dificuldade que vivia: dor física, dor emocional, dor do desemprego, dor da sua fome e de sua família...
Tratamos simplesmente suas feridas, mas o que realmente queríamos era tratar sua alma, suas dores mais profundas.
Dor... Mathias foi tratado e aconselhado a retornar com sua mulher e seus filhos para serem atendidos também pelos missionários da ONG Sementes da Saúde.
Sua história nos marcou, assim como muitas outras já nos marcaram durante esses anos de experiências e aprendizados no Benin.
Por Paula Felix (Missionária da Missão Benim 2018)